Uma tampinha

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Meu celular estragou! Aquela tomada que serve para carregar a bateria e conectar com um computador parou de funcionar. A tela do telefone manda a mensagem, “sujeira ou umidade no contato, porta desativada”.

Situação complicada, a gente nem percebe como o telefone está ligado com o dia a dia. Porque nem relógio de pulso eu uso mais, então saio aqui no interior da Encruzilhada, e de repente sinto fome. Mas não sei se está ou não na hora de almoçar.

Sou da geração da transição. Já não somos mais como os nossos avós, que nasceram na era do carvão, somos da era do carburador e platinado. Quer dizer, sempre tinha uma caixinha de ferramentas que consertava tudo.

Mas o celular já é diferente. Começa que não tem parafuso. Como desmonta essa coisa? Aí tem que ser oficina, e tem que trocar a peça, a tal placa sub, eu acho que é o nome. Por encomenda, porque a maioria das pessoas joga fora e compra outro, e as oficinas não tem estoque.

Rebelde que sou, por natureza, resolvi esperar. Peguei o “cebola”, botei no pulso, e transferi o whattsapp pro computador. “quem quiser falar comigo vai ter que esperar”. Nada pode ser tão urgente assim na minha vida.

No tempo do carburador, as coisas estragavam e a gente arrumava. O carro funcionava, mas não tão bem como hoje. É sabido que melhorou, mas é meio frustrante para quem sempre gostou de mexer nas coisas.

Por outro lado, a tal portinha do carregador. Puxa vida, é um negócio delicado, qualquer sujeirinha ou um pouco de umidade já “azinabra” e se recusa a funcionar. Mas como é que deixa limpo se o lugar onde vivo é cheio de poeira? Então não pode usar o telefone se vai capinar na horta, lidar com os bichos ou serrar a madeira? Ou então não pode ter telefone quem vive no Vau dos Prestes, onde o outono brinda os moradores com uma cerração que dá para pegar com a mão, todos os dias, até o meio dia?

O que custava botarem uma tampinha no telefone?