Filho de peixe… Peixinho é

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 …ou um jovem-peixe-avançado-na-idade…depende da visão no prisma…

         Pois tenho uma verdadeira paixão por trens.

         Por isso, filho de peixe, peixinho é.

         Ou seja, meu pai, seu João Francisco Carretta, tinha como profissão ser telegrafista da R.F.F.S.A – Rede Ferroviária Federal Sociedade Anônima.

         Aliás, um hábil conhecedor e praticante do telégrafo, meio de comunicação pelo Código Morse (um sistema de representação de letras, algarismos e sinais de pontuação, através de um sinal codificado envidado de modo intermitente).

         Sendo o seu Chico Carretta funcionário público federal, ferroviário, a minha paixão pelos trens, pelas estações ferroviárias, pela Maria Fumaça e depois a “Máquina Diesel”, os trens de carga e o “Minuano”, foi imediata.

         Cresci frequentando a Estação Ferroviária de Bagé-RS, os escritórios com os telégrafos e os telegrafistas, colegas de meu pai, e ali era onde eu mais gostava de ir.

         Naturalmente quando qualquer composição de vagões chegava à estação e, depois, partia, seja o trem de carga ou o trem de passageiros, eu descia a passos largos para a plataforma da estação e ali ficava a contemplar, extasiado, o movimento compassado, meticuloso e com toda a cautela, dos responsáveis por aqueles momentos.

         Minha memória olfativa também ainda é muito presente, pois os cheiros de uma plataforma de ferroviárias eram bastante característicos.

         Quando o Chefe da Estação (usava um quepe vermelho, que nem um cardeal) batia o sino, é porque a composição daqueles vagões estava autorizada a se movimentar, para continuar a sua viagem.

         Muitas e muitas vezes nossa família viajou nos trens para a Praia do Cassino (parada na cidade de Rio Grande e, depois, até o Cassino de “carro de praça”) e, a melhor de todas as viagens: para a Capital do Estado, Porto Alegre, com a duração de um dia e uma noite e, baldeação na cidade de Cacequi-RS)

         A gente embarcava no trem de passageiros em Bagé, todavia eram vagões normais e, por isso, ou seja, como a viagem ultrapassaria aquela noite, em Cacequi erámos transferidos para uma composição de vagões leito.

         Passar à noite viajando de trem, não me lembro que outra coisa mais maravilhosa eu tive a prazer de viver.

         Um dia eu ainda conto aqui para vocês tudo o que acontecia nestas viagens noturnas e, não preciso dizer que eram fantásticas.

         Infelizmente, a RFFSA foi dissolvida de acordo com o estabelecido pelo Decreto nr. 3.277, de dezembro de 1999, hoje e aqui no Rio Grande do Sul, sob controle da empresa privada América Latina Logística (atualmente Rumo Logístico).

         No entanto, e tudo isto que lhes conto veio em minha lembrança porque li uma matéria em jornal gaúcho que, avança na Assembleia Legislativa do RS, uma proposta de emenda à Constituição (para quem interessar possa, é alvissareiro pesquisar o tal projeto), que pretende estimular a construção de ferrovias privadas para o transporte de cargas no Estado.

         Ora, senão vejamos, a iniciativa privada em estando habilitada a fazer obras e novos traçados na malha ferroviária, num primeiro momento para o transporte de cargas, “os trens de passageiros”, logo, logo, estarão à nossa disposição, pois creio e coloco muita fé nesta questão.

         Não custa nada sonhar…quem sabe algum dia eu ainda ponha os pés na plataforma de uma “estação ferroviária” …quem sabe…