Ventos

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Essa semana, com a melhora do tempo, começou a soprar o vento que vem do leste. É um vento que aumenta durante à tarde, meio chato, e típico do final de outubro. Conheço por dois nomes: boca seca e vento dos finados. O primeiro porque é um vento seco e que deixa o tempo seco. O segundo porque é comum soprar com força no dia de finados.

Ventos não são visíveis, e nem palpáveis. No entanto, são tão ligados e importantes a vida das pessoas e comunidades que possuem nomes. Como esse. Temos também o Minuano, que vem do outro lado, originado na cordilheira dos Andes, e que é frio e seco. Também limpa o tempo. O vento norte, que precede as chuvas, e que acabou batizado com o quadrante de onde sopra.

Tem um vento que sopra na região noroeste da Argentina, quente e seco, muito forte, e que se chama Zonda. Li sobre ele, outro dia. Mantém as pessoas fechadas dentro de casa por longos dias.

Nos EUA, no centro do país, tem uma região que chama Dust Bowl, ou bacia de poeira. Lá, sopra um vento fortíssimo, de longa duração, muito seco. No século passado, colonos tentaram plantar trigo por lá. Não sabiam que havia ciclos de chuvas e secas. Na primeira seca provocada por esses ventos, tiveram suas casas cobertas de poeira, e houve relatos de navios na costa da África que ficaram cobertos da terra que esse vento carregou.

No deserto do Saara, sopra o Siroco, também quente e seco, e que provoca gigantescas tempestades de areia no deserto. É um vento tão famoso que aparece em filmes, livros e até um automóvel da Volkswagen recebeu seu nome.

Aí tem o Mistral, que sopra no sul da França. Tão importante que virou até nome de perfume. Sopra no outono e é seco e frio. Seu nome significa “magistral”.

Muitos outros, os Alísios que foram responsáveis pelas calmarias das caravelas do Colombo e do Cabral. O Chinook, que sopra nas rochosas do Canadá, e é responsável por algum derretimento de gelo que irriga pastagens e lavouras, e mais outros pelo mundo afora.

O interessante dessa história dos ventos é que a relação entre as pessoas, as comunidades e os ventos é comum em todas as culturas. Todos os povos perceberam a presença dos ventos e sua influência, seja porque alguns causam desastres, outros que limpam o tempo e outros que trazem água para os cultivos. E dessa relação surgiu a necessidade de dar nome, como que trazendo para dentro das casas a presença dessas massas de ar que não podem ser vistas, nem tocadas e nem controladas.